O que te trouxe até aqui?
- Maria Antonieta Lemos
- 24 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Muitas pessoas me procuram para ajudar na busca de seus propósitos e para direcioná-las num rumo profissional que seja autêntico e eu sempre começo – a desgosto de alguns – olhando para o passado.
Do mesmo jeito que nossas crenças foram formadas no passado, nossos valores e motivações também. Se conseguir se reconectar com quem você era antes do mundo te dizer quem deveria ser eu te garanto que vai ficar claro qual deve ser seu próximo passo.
Resolvi, então, refletir sobre a minha história e o que me trouxe até o Materialize.
Se eu pudesse resumir os principais valores que meus pais fizeram questão de incutir em mim foram: trabalho, trabalho, trabalho. Para eles, esta era a saída e a solução para tudo, desde estabilidade financeira a liberdade. Tenho diversas lembranças de ver eles saindo para trabalhar mesmo doentes o que na minha infância não fazia sentido já que doença era a única razão justificável para poder faltar na escola.
Eles não tinham necessariamente nenhum talento, vocação ou paixão, mas tinham muito compromisso, uma ética impecável e um orgulho enorme daquilo que faziam.
Quando eu tinha oito anos meu pai recebeu um convite de trabalho e nos mudamos para o interior. Saímos os 4 de um apartamento com um só banheiro, para uma casa com jardim, horta, edícula e um carro da empresa na garagem.
Lá comecei a montar a cavalo, meu pai emagreceu e fomos para a Disney pela primeira vez. Em 1990 veio o plano Collor, meu pai foi demitido e voltamos para o mesmo apartamento de antes na capital.
Para os meus pais educação era a coisa mais importante e se sacrificaram muito para que eu e minha irmã tivéssemos melhores oportunidades do que eles tiveram. Estudávamos em um dos melhores colégios da cidade o que significava, para mim, que eu era um peixe pequeno em um lago grande. E me senti assim por muito tempo da minha vida.
Foi só quando entrei para o mercado de trabalho que consegui ver meu valor, minha contribuição e senti uma realização que nada antes havia me dado, nem meus troféus de equitação.
Se eu fosse resumir minha trajetória profissional diria que foram vários saltos, às vezes rumo ao conhecido, às vezes não. Sempre tive muita fé – não religiosa e nem numa força maior – mas na minha capacidade de lidar com o que quer que fosse enfrentar.
Com 23 anos deixei uma breve, porém estável, carreira corporativa para fazer um curso de maquiagem mesmo sem nenhuma perspectiva de trabalho nesta área. Quando me perguntavam o que eu queria fazer apenas dizia “quero trabalhar com maquiagem, mas não quero maquiar o dia todo”. E foi exatamente isso que eu fiz nos 18 anos seguintes na MAC.
Lá descobri meu talento para treinar, minha paixão por desenvolver pessoas e minha habilidade de fazer o outro conseguir ver seu próprio brilho. Cresci muito, fui promovida diversas vezes e tenho muito orgulho de ter começado como vendedora de loja, passado por Gerente Regional de Treinamento para a América Latina e terminado com o sonho de ter sido convidada para morar fora do país a trabalho.
Fiquei 2 anos no Chile cuidando de toda a operação das lojas da MAC no país e confesso que não foi fácil. Mas eu amava. Lá me sentia importante, respeitada, digna, mesmo que não tenha conseguido fazer tudo que gostaria de ter feito.
Em 2019 me separei do meu ex-marido após 11 anos de um relacionamento muito turbulento e quando a pandemia chegou no ano seguinte tudo mudou e acabei, mais uma vez, pedindo demissão para me reinventar.
De volta ao Brasil decidi tirar um ano sabático, mas não deu muito certo porque não sei ficar sem trabalhar. Fiz alguns jobs de consultoria, mas me frustrava fazer só a entrega e não poder acompanhar a evolução. Sabia que queria trabalhar com treinamento, mas me sentia perdida. Não sabia como, nem onde nem quando.
E então fiz a única coisa que me restava: olhar para dentro. Se eu tinha conseguido despertar o brilho de tanta gente, não conseguiria despertar o meu também?
Mergulhei ainda mais nos meus estudos de neurociência, psicologia e física quântica e comecei a me treinar para construir minha autoconfiança buscando me sentir um peixe grande independentemente do tamanho do lago.


