O preço da dependência
- Maria Antonieta Lemos
- 22 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Nesta vida tudo tem um preço, até aí tudo bem, mas eu penso que as vezes estamos pagando por alguma coisa sem nem saber. Já aconteceu de você perceber que no seu cartão vem uma cobrança mensal de algo que você nem sabe o que é? Comigo é sempre da Apple Store, por alguma razão.
Quando eu era adolescente eu tinha hora limite para chegar em casa. Tinha também que arrumar minha cama, lavar a louça aos domingos e guardar minha roupa passada. Caso não quisesse fazer alguma dessas coisas ouvia “enquanto morar na minha casa vai ser assim”. Quando finalmente fui morar sozinha fazia todas essas coisas mesmo sem nenhuma ameaça de ser deixada embaixo da ponte só por não cumprir as regras. Quando passei a pagar minhas próprias contas, lavar a louça já não era exclusividade dos domingos.
Toda escolha implica uma renúncia.
Acredito que quando já não dependemos de ninguém, seja financeiramente ou emocionalmente, conseguimos fazer escolhas que são muito mais verdadeiras e alinhadas com aquilo que realmente somos.
Se eu não dependo da mensagem do boy para me sentir bem comigo mesma, escrevo pra ele quando tenho algo pra dizer ou para – genuinamente – saber como ele está. Se minha autoconfiança não vem da avaliação de desempenho anual, posso priorizar os projetos que acho realmente apaixonantes. Se tenho liberdade financeira não preciso esperar que outro me diga quais são as opções viáveis de viagem para estas férias.
Independência não é autossuficiência. Ninguém vive bem sozinho, somos muito melhores quando vivemos em comunidade e em relação com os outros. E aí eu penso: será que não podemos ter as duas coisas? A liberdade com a comunhão? A autonomia junto com o casamento? A equidade e a intimidade?
Adoraria que ser livre significasse selecionar deliberadamente, amar com a alma, rir com a essência, doar-se sem amarras, conversar sem pauta, acreditar sem culpa, pagar sem preço.
Me orgulho de ter chegado em um lugar da minha vida onde tudo o que eu faço, faço porque quero. Tenho as mesmas limitações que os demais, mas assumo cada escolha porque tenho a opção de não escolher. E, sem dúvida, essa é uma renúncia que jamais estarei disposta a fazer.


