Comprar e usar ou comprar e guardar?
- Maria Antonieta Lemos
- 10 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Quando vejo uma bolsa linda, eu começo a imaginar em que tipo de pessoa eu vou me transformar se comprar aquela bolsa. Normalmente as palavras que vem à minha mente são: cool, descolada, poderosa, respeitada, admirada.
Compro a bolsa.
No dia seguinte decidi não usar ainda para não gastar.
Na semana seguinte acho que ela é chique demais para a roupa que estou usando.
No mês seguinte acho que meus amigos vão me achar metida se me verem com esta bolsa, melhor não.
No outro mês nem lembro mais dela.
No meu guarda-roupa devo ter umas 4 bolsas de marca - que comprei usadas porque jamais seria capaz de comprar uma nova. Que tipo de pessoa eu seria se comprasse uma bolsa destas por este preço enquanto tem tanta gente passando fome no mundo?
Portanto, elas estão muito bem guardadas em saquinhos de tecido com papel bolha por dentro para não deformar e as alças de metal e cobertas com papel de seda para não marcar o couro. Paguei caro, tem que cuidar certo? Mas, e usar?
Tenho uma caixa cheia de colares. Desde colares étnicos, semijóias, estilo vintage, de resina, coloridos, gargantilhas, colares longos, leves, pesados. Se você cruzar comigo amanhã na rua, a chance de eu estar usando um colar é -1.000%.
O problema é que eu compro para ser uma pessoa que ainda não sou, mas gostaria de ser. E acho que a maioria das pessoas é assim. Poderia culpar o consumismo, o marketing, as propagandas, mas a verdade é que isso está totalmente relacionado a minha falta de aceitação. Não me enten

da errado, eu me amo. Acho que sou a pessoa mais fantástica do planeta. Mas se eu pudesse ter o corpo da Pugliesi, a atitude da Anitta, o marido da Giselle e o closet das Kardashians, não ia reclamar.
Deveria doar, então, minhas bolsas e colares? Talvez, mas isso não resolveria o problema. Posso esperar meia hora antes de comprar alguma coisa para ter certeza de que eu realmente quero aquilo? Talvez, mas sou ótima em me convencer. Ganho qualquer argumento contra minha prudência.
Tem solução? Não sei. Mas depois de tanto estudar, ler, escutar e refletir, tenho vontade de pensar melhor antes de tomar uma decisão. Quem sou eu? Há algo de errado em ser quem eu sou? Porque tenho vontade de ser alguém diferente? Este produto vai me ajudar a me aceitar?
Continuo comprando colares. Continuo não usando colares. Mas compro menos. Deixo meus colares à vista para ver se uso eles mais vezes, doou os que não uso, tento comprar em brechós. Mesmo se errada, estou consciente do meu erro, mas também dos meus acertos.


